DOCUMENTO IMPORTANTE
PARA A HISTÓRIA DE JABOTICABAL
Luiz
Carlos Beduschi
No
passado, vários historiadores procuraram identificar as origens de nossa cidade.
Um desses historiadores, Manoel Amorim Brenha, português de nascimento, natural
de Povoa de Varzim, muito contribuiu para o registro dos primórdios da História
de Jaboticabal.
Amorim
Brenha organizou a edição do livro Jaboticabal, publicado em 1928, em
comemoração ao Centenário de Fundação da cidade. Além de organizar o livro, Amorim Brenha foi autor
de vários contos que retrataram aspectos interessantes daquela época.
Num
desses contos, intitulado O São João de Jaboticabal, Amorim Brenha,
fazendo uso de sua imaginação fértil e criativa, concebeu uma história a
respeito da infância e dos motivos que determinaram a vinda de João Pinto
Ferreira ao Brasil.
Segundo
o referido autor, os pais de João temiam que ele viesse a ser convocado para
participar da guerra na qual Portugal se envolvera, embate que já havia ceifado
a vida de três de seus irmãos mais velhos. Assim, para não ter mais um filho vitimado
pela guerra, os pais de João decidiram enviá-lo ao Brasil.
De
acordo com o relato de Amorim Brenha, João fora até a Espanha e de lá embarcara
na galera San Thiago que viria a naufragar nas proximidades das Ilhas Canárias.
Segundo o autor, João fora salvo milagrosamente por uma das caravelas do serviço real de transporte de alfaias e
riquezas que a tempestade retardara muitos meses no mar bravio.
A
caravela a que o autor faz referência integrava a frota que acompanhava Dom
João VI ao Brasil, em 1808, quando o monarca fugia do ataque das tropas de
Napoleão Bonaparte que invadira Portugal.
Para
Amorim Brenha, em 1808, João tinha
quatorze anos, mas era robusto e parecia ter mais dois ou três, uma vez que
nascera em 1794.
Debruçando-se
sobre documentos oficiais e autênticos, Dorival Martins de Andrade, atual
Coordenador do Museu Histórico “Aluísio
de Almeida” de Jaboticabal, passou a confrontar algumas datas mencionadas
no conto de Amorim Brenha com as que constam de documentos oficiais aos quais
teve acesso, tendo encontrado discrepâncias entre elas.
A
principal discrepância dizia respeito ao ano de nascimento de João Pinto
Ferreira. Para Dorival, João Pinto Ferreira nascera em 1778 e não em 1794, como
afirmara Amorim Brenha em seu conto. Uma diferença significativa de 16 anos!
Em
2011, quando estávamos escrevendo o livro Símbolos de Jaboticabal, surgiu a
oportunidade de esclarecer essa questão.
Graças
aos recursos da Internet, descobri uma publicação virtual denominada Gazeta de Regadas. Entrei em contato
com o editor da mesma, o Professor Pedro Miguel Teixeira Sousa. De início
identifiquei-me e, em seguida, solicitei sua colaboração no sentido de verificar
no livro de assentamentos da Paróquia de Santo Estevão de Regadas se constavam
informações a respeito do nascimento ou do batizado de João Pinto Ferreira.
A
partir do dia 17 de maio de 2011, passei a trocar mensagens com o Professor
Pedro Sousa, via Internet. No início de agosto de 2011, recebi a seguinte
mensagem:
Prof. Luiz Carlos
Beduschi. Como tinha dito, o mês de agosto chegou e por isso dirigi-me ao
Arquivo Distrital de Braga para conseguir a cópia do registro de nascimento e
baptismo de João Pinto Ferreira. Como poderá verificar no documento, João Pinto
Ferreira nasceu no dia 21 de março de 1779 e foi batizado no dia 23 de março do
mesmo ano na Igreja de Santo Estevão de Regadas. O nome do pai é Francisco
Pinto, mas a mãe é apontada como Custódia Glória Coelho, o que difere do
inicialmente apontado, mas penso que se justifica pelos nomes dos avós. Visto
que era filha de Sebastião Pires e Jerónima de Souza Coelho. Segue o documento
em anexo e se for necessário mais algum documento ou informação disponha.
Grande Abraço. Pedro Sousa.
Cópia do “fac-símile” enviado vai exposta a
seguir.
Para
facilitar a leitura do inteiro teor do documento manuscrito, insere-se
transcrição feita por Dorival Martins de Andrade, Coordenador do Museu
Histórico “Aloísio de Almeida” de Jaboticabal.
João, filho legítimo de
Francisco Pinto e sua mulher Custódia Maria Coelho, moradores do lugar de
Sardadello e da Freguesia de Santo Estevão de Regadas, do Concelho de Celorico
de Basto, nasceu aos vinte e um de março de mil setecentos e setenta e nove, e
foi batizado aos vinte e três do referido mês e ano, solenemente na Pia
Baptismal desta Igreja com a imposição dos santos óleos; por mim o Padre
Francisco José da Costa e Sá, Reitor desta mesma Igreja, e foi padrinho Manoel
Alvarez do lugar de Sardadello, dessa mesma Freguesia, e Madrinha Teodora Maria
de Siqueira, do mesmo lugar e Freguesia. Avós Paternos Thomé Pinto e sua mulher
Catharina Ferreira, da Freguesia de São Martinho de Sylvares, do lugar de
Tresmil. Avós Maternos Sebastião Pires e sua mulher Jerônima de Moura Coelho,
do lugar de Sardadello desta Freguesia, já dita, de Santo Estevão, servindo de
testemunha o Padrinho e João Pinto, da Freguesia de São Martinho de Sylvares,
do lugar de Tresmil e Manoel José Machado, solteiro, filho de Manoel Machado da
Cunha e para que esta verdade em todo o tempo conste fiz este acento, que
assinei com o Padrinho e testemunhas, dia, mês e ano, ut supra.
O Reitor Francisco José
da Costa e Sá
Do Padrinho Manoel
Alvarez - João Pinto
Testemunha Manoel José
Machado
Graças
à perspicácia do pesquisador diligente e à colaboração do Prof. Pedro Sousa a
dúvida estava finalmente dirimida: foi possível restabelecer a verdade
histórica em relação à data de nascimento do Fundador de Jaboticabal – 21 de
março de 1779.
(Jornal "O COMBATE", 16 de Julho de 2012)